Wednesday, February 04, 2015



Tatô e Baralho Cigano


A relação entre os oráculos se dá tanto nas diferenças quanto nas semelhanças, apesar da tendência geral evidenciar superlativamente suas diferenças, criando uma ideia que não corresponde à realidade.

Podemos estabelecer três tipos de diferenças:
Estrutural, iconográfica e simbólica.

A ESTRUTURAL se evidencia no número de cartas e suas estruturas internas.
No tarô temos 78 cartas ou arcanos que se dividem em arcanos maiores e menores.

Ambos os grupos têm função complementar e estruturas complexas. Existe uma linearidade no ordenamento dos dois conjuntos que se dá pelos números ou hierarquia, no caso dos arcanos menores numerados e da corte. Além da ordem sequencial, encontramos outros fatores de que interligam os elementos dos conjuntos de ou formas diferentes através do número e relações simbólicas.

No petit lenormand temos 36 cartas e dois conjuntos:imagens e naipes, como no tarô, porém esses estão contidos um no outro, mesmo sem manter relação direta. Cartas e naipes são independentes. Não se pode ordenar sequencialmente todos os elementos, simultâneamente. Se ordenarmos pelos naipes, desordenamos os números, e vice-versa, optando-se, na maioria das vezes, pelo número.

Naipes e Imagens foram concebidos para funções distintas sendo complementares, somente, através da utilização de algumas técnicas de leitura.

Vemos as diferenças ICONOGRÁFICAS na construção das imagens. Enquanto o tarô obedece a padrões mais rígidos, onde cenários, personagens e suas posições precisam seguir certas regras como, por exemplo, O Mago que deve segurar uma varinha e ter uma mão erguida e outra abaixada, o lenormand já não apresenta essa necessidade. A cegonha, independente de estar se alimentando no lago, cuidando de seu ninho ou voando, manterá seus atributos inalterados. Suas imagens podem ser elaboradas de forma mais livre não estando presas à cadeias simbólicas, sendo mais simples.

As diferenças SIMBÓLICAS se apresentam nos símbolos (sol, lua, torre, estrelas e cavaleiro) utilizados pelos dois baralhos, porém com atributos diferentes ou parcialmente semelhantes.

Como exemplo, temos a lua que no tarô fala de ilusões, medos e inimigos ocultos; enquanto no petit lenormand representa honras, méritos e reconhecimento profissional. Já o Sol, em ambos, divide os atributos de sucesso e alegria, porém o Sol do tarô apresenta um aspecto relacional, simbolizando amor e namoro, que não encontramos no lenormand.

Das semelhanças, a mais importante a ser destacada é: ambos são CARTOMANCIA.

Cartomancia é a arte de prever o futuro através das cartas, então isso engloba todos os tipos de cartas. O tarô é uma variação mais sofisticada de cartomancia, mas não deixa de o ser.
No seu surgimento, ele era tão mundano como qualquer baralho. Seus símbolos eram facilmente reconhecidos e descreviam situações cotidianas como faz o petit lenormand, hj em dia.
Afirmações de que o tarô é mais para perguntas de cunho filosófico e espiritual e o petit lenormand para questões mundanas não se confirmam no dia-a-dia do consultório onde ambos se mostram perfeitamente eficazes em responder perguntas de qualquer natureza.

Da mesma forma, dizer que o tarô dá respostas subjetivas e o petit lenormand objetivas é outro erro grosseiro. A qualidade da resposta está no produto dos estudos e experiência pessoal do leitor que definirão o grau de profundidade da sua interpretação e a linguagem que usará para transmitir essa informação. Portanto, podemos ser tão subjetivos com o lenormand quanto objetivos com o tarô. Esses mitos se construíram durante o processo histórico de ambos os baralhos.

Os dois foram, inicialmente, concebidos para serem jogos de diversão. No caso do tarô, nos séculos XVIII e XIX, ocultistas reconheceram nele características místicas e esotéricas inserindo-o em seus rituais, atribuindo-lhe, assim, novas formas de utilização e funções para que se adequasse às suas necessidades. Posteriormente, houve uma releitura de seus símbolos pelo viés da psicologia junguinana que fez nascer uma nova abordagem que ampliou ainda mais o seu universo. Essas duas interferências marcaram profundamente a história do tarô e como ele passou a ser visto.

Com o lenormand, o processo foi inverso. A sua curta história e a falta de obras e estudos mais profundos, limitou as informações a seu respeito aos livretos que acompanhavam o baralho, e eram compostos por meia dúzia de palavras-chave e um único método de cartomancia rudimentar. Dessa forma, criou-se a falsa ideia que ele se restringia à palavras-chave e, por isso dava “respostas mais diretas” recebendo a alcunha de “Baralho Fofoqueiro”, ao mesmo tempo que se diz que o lenormand só dá respostas por combinações, sendo desaconselhável a leitura com uma só, carta, ao contrário do tarô onde se pode obter respostas com um só arcano. Mais uma vez, a prática descontrói essa falácia, mostrando que uma carta do lenormand, sozinha, é capaz de nos responder o que precisamos saber.

Tarô e lenormand se equilibram na balança. A riqueza simbólica e a complexidade das cartas do tarô é compensada pela atualidade da simplicidade das cartas do petit lenormand que permitem a identificação imediata de seus símbolos, mesmo por quem não as conhece, facilitando o aprofundamento do seu conhecimento através de experiências vivenciais.

Com todas as suas diferenças e semelhanças, a função de ambos é a mesma: proporcionar-nos uma visão mais ampla da vida e maior compreensão de nós mesmo, orientando-nos em nossas escolhas.


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